"A palavra “solidão” faz pensar em tristeza. E é verdade. Solidão é triste. Mas uma pitada de tristeza não é tão ruim quanto se pensa. O que é realmente ruim é uma coisa que acontece quando não estamos em solidão, quando estamos no meio dos outros. Os outros exigem de nós que estejamos sempre alegres. Por isso se fazem tantas festas e se oferecem tantos churrascos no fim de semana: para espantar a tristeza. O fim de semana é ameaçador. O fim de semana é onde mora a possibilidade de estar sozinhos. A solidão, a tristeza… Festas e churrascos são rituais mágicos cujo objetivo é exorcizar a solidão. É só a gente ficar silencioso e meditativo que uma pessoa bem intencionada nos procura para saber o que está acontecendo. Fernando Pessoa sabia o que estou dizendo. E colocou num verso: “Oh! A suprema felicidade de não precisar de estar alegre!” Um pouco de tristeza faz bem à alma. Ela fica mais bonita. Alberto Caeiro, falando sobre a sua solidão, dizia que “toda a paz da Natureza sem gente vem sentar-se ao meu lado. Mas eu fico triste como um pôr-de-sol quando esfria no fundo da planície e se sente a noite entrada como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma…” A paz da natureza sem gente! Pense nisso. Com gente, a natureza perde a paz. O falatório nos rouba da comunhão com as montanhas, com as árvores, com o pôr-de-sol…"
[Rubem Alves]
O que seria do mundo se não houvesse esses momentos de introspecção na vida das pessoas? Eu acredito que são momentos necessários para nosso autoconhecimento. Às vezes a vida nos cobra que paremos e pensemos sobre ela. E a verdade é que nos momentos de tristeza que somos "obrigados" a refletir. Nas alegrias temos tendência a viver o momento sem pensar muito sobre. Quem para para refletir naquelas situações de intensa alegria? Dificilmente você vai ficar parado no seu cantinho, ouvindo música para pensar. No máximo vai sair, vai curtir, encontrar os amigos e quando ouve música geralmente é para dançar.
Creio que não sou a única. Quando estou triste, eu me recolho. E penso! Vivo intensamente esta fase de recolhimento. Eu reflito sobre a razão da minha tristeza e sobre a vida. Eu rememoro momentos recentemente vividos e de quebra vem todos os outros vividos no passado. Nos primeiros dias, as lágrimas insistem em rolar incessantemente e preciso até me controlar para não chorar em público. (Sim. Eu odeio chorar em público.) Controlo sempre as minhas emoções. Por isso essa necessidade de recolhimento. Necessito estar sozinha para curtir a minha fase down. E aí eu ouço todas as músicas tristes que existem, eu leio romances, eu leio e eu penso! E eu produzo mais também. Sinto-me inspirada para escrever. E eu escrevo, embora nem sempre poste aqui.
Depois de dias vivendo de introspecção, aos poucos eu vou voltando à vida normal. Começo a ver uma luz no fim do túnel. Começo a pensar mais positivamente e a entender que a vida continua mesmo que não esteja tudo da forma como eu quero. Que é a vida afinal senão isso? Não se pode ter tudo. E preciso entender isso. A gente cresce com os duros golpes da vida. Mas não devemos nos desesperar, pois Deus tem um plano para cada um de nós. E ter fé nEle é o que me move. Sinto-me mais renovada a cada dia e acredito que dias melhores virão.