
Fernão Capelo Gaivota (Jonathan Livingston Seagull)
A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do vôo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o mais importante não era comer, mas voar.
Mais que tudo, Fernão Capelo Ga
ivota adorava voar. Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre as outras aves. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinho, a experimentar, fazendo centenas de vôos rasos.
Não sabia porquê, mas, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior ao comprimento das suas asas abertas, conseguia manter-se no ar durante mais tempo e com menos esforço. Os seus vôos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a praia e depois a medir o comprimento da aterragem, os pais ficaram deveras preocupados.
-Por quê? Fernão, por quê? - perguntava-lhe a mãe. - Por que não podes ser como o resto do bando? Por que não deixas os vôos rasos para os pelicanos e para o albatroz? Por que não comes? Filho, és só penas e osso!
- Não me importo de ser apenas ossos, mãe. Só quero saber aquilo que consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber.
-Ouve lá, Fernão - disse-lhe o pai com bondade. - O Inverno aproxima-se. Haverá poucos barcos, e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos vôos está muito bem, mas sabes que não te podes alimentar disso. Se tens mesmo de estudar, então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não te esqueças de que a razão por que voas é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se como os outros: tentou mesmo a sério, disputando com o resto do bando a comida dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixe e pão. Mas não conseguiu.
“É tão inútil”, pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara bastante apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia. Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar.
E há tanto para aprender!
Richard Bach
Li este livro há muitos anos. Eu era ainda uma adolescente e fiquei simplesmente fascinada com a beleza da mensagem contida nele. Tornei a lê-lo muitos anos depois e desta vez pude me fascinar ainda mais. Aprende-se tanto com o Fernão Capelo Gaivota! Encantamo-nos com a busca do Fernão pelo seu próprio crescimento. Fernão não é uma gaivota qualquer. Fernão, ou no original Jonathan Livingston, é uma gaivota que buscou algo mais. Uma gaivota que não se contentou apenas em ser mais uma. Ela queria aprender, crescer, chegar mais alto.
É o que todos deveríamos fazer. Ser como aquela gaivota que não queria apenas comer e voar. Ela queria ir mais além. Fernão queria aprender mais e mais. Queria ir em busca de seus sonhos, não importando quão distante estivesse, nem quantas críticas receberia. Aprender é viver.
Assim como a maioria das gaivotas do seu bando, nos acomodamos com o que querem que sejamos e aonde querem que cheguemos. Mas e nós queremos isso mesmo? Será que não desejamos ir para outro lado? Será que não desejamos “voar” mais alto? Será que não nos acomodamos demais? Deixamos o medo, o receio, a preguiça e nos contentamos apenas em viver por viver? Saibamos correr atrás da tão sonhada liberdade. A liberdade de aprender.
Aprendamos com o Fernão Capelo Gaivota a querer mais. Aprendamos a correr atrás do que desejamos, ainda que esse sonho se apresente tão distante para nós. Busquemos a liberdade de viver, de ser! Sem medo.