domingo, fevereiro 24, 2013

O amor

"É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois! Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?"

[Eça de Queirós - O Primo Basílio]

Seria mesmo o amor perecível? O arrebatamento inicial existe e é bem verdade que ele acaba morrendo aos poucos. Mas não seria essa a descrição da paixão? O amor vive, não morre jamais. A paixão existe para preencher vazios e precisa ser alimentada para não perecer. Já o amor existe por si só. Este não carece de alimento. É capaz de ultrapassar todas as barreiras até mesmo a morte.

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

O tempo cura

O Tempo Seca o Amor  

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'

Amo a Cecília Meireles! E hoje o belíssimo poema "O tempo seca o amor" é o meu poema da dose diária de poesia que tomo todos os dias. Só lembrando o Johann Goethe:

"Devemos ouvir pelo menos uma pequena canção todos os dias, ler um bom poema, ver uma pintura de qualidade e, se possível, dizer algumas palavras sensatas." [Goethe]

O tempo realmente cura tudo? Se não tudo, mas quase sempre tudo. Se algo te machuca hoje o tempo pode ser a cura ou até mesmo o paliativo. A dor que te corrói pode amenizar com o passar do tempo. Ela pode deixar uma ferida, uma cicatriz, mas pode também curar-se. Claro que nem sempre se consegue a cura total. Às vezes a lembrança daquela dor teima, insiste em aparecer, mas com certeza não vai doer como antes. E se ela der o ar da graça, não deixe que se instale. Mude o pensamento. A resposta da vida é o tempo! Quando algo me machuca, deixo doer, deixo as lágrimas caírem até secarem e eu sentir que aquele machucado já não me dói tanto e eu vejo que o céu já não está mais cinzento. E aí eu arrisco um sorriso mesmo sabendo que outras dores virão e terei de passar por tudo novamente. Não é pessimismo é a essência da vida! O sorriso e a lágrima vão sempre fazer parte da minha, da sua, da nossa vida.




quarta-feira, fevereiro 13, 2013

...

nada é mais eloquente
e perturbador que o silêncio

e, no entanto,
nenhum outro ruído é tão inquietante
como aquele que sobra das palavras que se não dizem.

[Júlio Montenegro]

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Livro X Filme

Como uma apaixonada por livros não posso deixar de notar a diferença existente entre um livro e a versão criada para o cinema. Essa diferença pode ser mínima, mas muitas vezes ela chega a ser gritante. O motivo é óbvio: certas obras não cabem na duração de um filme. Principalmente quando se trata de clássicos volumosos como "Os Miseráveis" de Victor Hugo.

Não é que os filmes sejam ruins. Pelo contrário, tanto a versão de 1988 com o Liam Neeson e Uma Thurman e a versão musical de 2012 são notáveis. Apesar de serem bons filmes, quem leu a obra sabe que muito se perde quando a história é levada para o cinema. Tomando como exemplo "Os Miseráveis", quem vê apenas o filme não alcança toda a grandiosidade do livro. Os detalhes históricos, a reflexão social, religiosa e política, os diálogos intensos e as emoções são excepcionais. Toda a narrativa é brilhante! Há algumas passagens enfadonhas que não tiram o brilho da obra. Quem não for um leitor de verdade talvez desanime, porém quem persistir encontrar em suas páginas grandes emoções.

Meu primeiro contato com esta obra  foi através do filme. Não tive a oportunidade de ler o livro antes de assistir ao filme, mas apaixonei-me pela história e logo procurei pelo livro. Levei bastante tempo para ler visto que trabalhava em dois turnos e não tinha muito tempo para devorar os dois volumes da minha edição de "Os Miseráveis". Mas as emoções foram intensas! E, para mim, o final é pura emoção. Na versão de 1998, este final é totalmente ignorado. Erro gravíssimo porque deixa muitos acontecimentos de fora. Na versão musical, felizmente, eles não são ignorados ainda que não alcancem todos os detalhes. É tudo muito breve, mas emocionante assim mesmo.

Na semana passada, no primeiro dia de estreia da mais nova versão, estava lá na primeira sessão do dia. Estava super ansiosa para ver e o resultado só não é perfeito porque o livro é muito mais! No dia seguinte procurei minha edição para ler os momentos finais e a emoção foi a mesma de quando o li pela primeira vez. Chorei muito da primeira vez e desta vez não foi diferente. Quero ter tempo para reler esta fantástica história. Confesso que fico espantada quando leio comentários de pessoas caracterizando o livro apenas como bom! Não se pode agradar a todos mesmo, mas posso arriscar dizer que essas pessoas não sabem o que é verdadeiramente uma obra-prima da Literatura! Para quem ainda não teve contato com a obra escrita, recomendo que leiam. Leiam a versão integral, não a versão adptada. Para os amantes da Literatura: nao morram antes de ler!

Sempre prefiro ler o livro a ver o filme primeiro. A leitura é sempre mais completa. 

FRAGMENTOS DA OBRA

"Morrer não é nada; não viver é que é horrível!"
 "O futuro pertence ainda mais aos corações do que aos espíritos.
Amar é a única coisa que pode ocupar a eternidade.
Ao infinito é necessário o inesgotável."
 "Verdade ou não, o que se diz dos homens ocupa, por vezes, tanto lugar na sua vida e sobretudo no seu destino como o que eles próprios fazem"
  "Meus amigos, nunca digam que há plantas más ou homens maus. O que há são maus cultivadores."
"A felicidade precisa do inútil. A felicidade é apenas o necessário. Tempere-a com muitos supérfluos. (...) Aceito o bucólico e também a arte em mármore e ouro. A felicidade sozinha é como o pão seco. Come-se, mas não é um jantar. Quero o supérfluo, o inútil, o extravagante, o demasiado, o que não serve para nada."
 "Nunca temamos nem os ladrões nem os assassinos. Estes são perigos externos, pequenos perigos. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos, estes são os ladrões; os vícios, estes são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importa o que ameaça nossas vidas ou nossas bolsas?! Preocupemo-nos apenas com o que ameaça nossa alma"